Entre mer et nuages, un monde flottant
C’est par la mer qu’il convient
de commencer toute géographie.
[Jules Michelet, La Mer, 1861]
Mon Brésil commence sur le Porto da Barra, à mes yeux la plage urbaine la plus exceptionnelle de tout le Brésil. Sa situation, à l’entrée de la baie de Tous-les-Saints, en eau calme, à l’abri des courants et des grosses vagues, en fait la plage idéale. Ma plage. Avec sa population assoupie sous le soleil, le passage au loin des cargos venant de je ne sais où, repartant vers une destination tout aussi inconnue, et bien sûr, les couchers de soleil sur la mer (cette plage est face au couchant, fait extrêmement rare au Brésil). La baignade – activité dilettante par excellence – permet ce détachement du monde, ce flottement dans un état d’âme approprié, cette disponibilité dans l’apesanteur aquatique, à quelques mètres du rivage.
Regarder, mais regarder avec la précision et la méthode d’un Monsieur Palomar (Italo Calvino, 1983). Regarder une vague, l’horizon, le mouvement d’un bateau, un pêcheur, un nageur, un reflet, un nuage, un poisson…
Qui n’a pas un jour compté les vagues ? et qui n’a été avec plaisir au creux de la vague, à voir apparaître et disparaître la ligne de l’horizon ?
Entre 2004 et 2012 j’ai réalisé pendant mes séjours à Salvador de Bahia quatre séries photographiques – Porto da Barra, Cargos, Vagues et Ikaros. Cette production a été publiée dans deux livres (Porto da Barra en 2009, Ikaros en 2010) et a été exposée à Salvador (Galeria do Olhar), à Paris (Galerie Umcebo), à New York (1500 Gallery) et à Los Angeles (Photographers Gallery).
Par la suite, lorsque vivant la moitié de l’année à Paris et l’autre moitié à Salvador, j’y est installé un atelier et j’ai commencé à me dédier à la peinture. Mes tableaux ont été naturellement influencés par mon travail photographique.
Quand je suis à Salvador, je nage tous les jours et je retrouve chaque jour intact le plaisir de mon enfance lors des grandes vacances au bord de la mer. Je regarde ce qui m’entoure et je retiens ce qui a trait au bonheur et à l’hédonisme, ce qui valorise le plaisir. Des dames se baignent, un danseur passe léger avec grâce, les dames miment les gestes du danseur, un chien plonge chercher la balle lancée par son maître… Et moi, de mon côté, j’observe deux personnes observant des petits poissons…
Ainsi naissent mes tableaux. De retour à l’atelier, la peinture se fait en reconstruisant la réalité, entre rêverie et souvenirs.
Marc Dumas
Entre o mar e as nuvens, um mundo flutuante
É pelo mar que toda geografia deve começar.
[Jules Michelet, La Mer,1861]
Meu Brasil começa no Porto da Barra, na minha opinião a praia urbana mais excepcional de todo o paÃs. Sua situação geográfica na entrada da BaÃa de Todos os Santos, em águas calmas, protegida da correnteza e das ondas, faz dela a praia ideal. Minha praia. Com sua gente tranquila modorrando sob o sol, e o longÃnquo movimento dos cargueiros, vindos não se sabe de onde, ou regressando para um destino igualmente desconhecido, e, é claro, os pores-do-sol sobre o mar (a praia dá para o poente, algo extremamente raro no Brasil). O banho de mar – atividade amadora por excelência – permite um certo desapego do mundo, uma flutuação num estado de espÃrito apropriado, uma disponibilidade na ausência de peso aquático, a poucos metros da costa.
Quem nunca contou as ondas? E quem nunca teve o prazer de furar uma, vendo aparecer e desaparecer a linha do horizonte?
Olhar, porém olhar com o olhar preciso e metódico de um Palomar (Italo Calvino, 1994). Observar uma onda, o horizonte, o movimento de um barco, um pescador, um banhista, um reflexo, uma nuvem, um peixe…
Entre 2004 e 2012, produzi durante minhas estadias em Salvador quatro séries fotográficas – Porto da Barra, Cargos, Ondas e Ikaros. Essa produção foi publicada em dois livros (Porto da Barra em 2009, Ikaros em 2010) e foi exibida em Salvador (Galeria do Olhar), em Paris (Galeria Umcebo), em Nova York (1500 Gallery) e em Los Angeles (Photographers Gallery).
Em seguida, passando a viver metade do ano em Paris e a outra metade em Salvador, montei um ateliê em Salvador e comecei a me dedicar à pintura. Meus quadros foram naturalmente influenciados pelo meu trabalho fotográfico.
Em Salvador, vou nadar todos os dias no Porto da Barra e cada dia reencontro intacto o prazer da minha infância na França quando passava as férias à beira-mar. Observo o que me cerca e detenho o que se relaciona com a felicidade e o hedonismo, o que valoriza o prazer. As moças se banham, um dançarino passa levemente com graça, as moças imitam os gestos do dançarino, um cachorro mergulha para pegar a bola lançada por seu dono… Enquanto eu, por minha vez, observo duas pessoas observando pequenos peixes…
É assim que nascem minhas pinturas. De volta ao ateliê, elas se fazem reconstruindo a realidade, entre devaneio e lembranças.
Marc Dumas